Muito além da estética, laces revelam histórias de praticidade, identidade e autoestima
Por Maria Laurindo
Durante um julgamento, a cantora Cardi B foi questionada sobre suas mudanças constantes de visual e se todos os cabelos — loiro, moreno, curto — eram dela. Sorrindo, respondeu sem graça: “São perucas”. A resposta viralizou nas redes como meme, mas abriu espaço para mulheres negras compartilharem suas experiências com as laces e a liberdade de transformar o visual.
Nos últimos anos, as laces — perucas com aspecto natural, muitas vezes feitas de cabelo humano — ganharam popularidade na internet, com tutoriais de aplicação, variações de modelos e dicas de praticidade. Rappers como Nicki Minaj, Megan Thee Stallion e Doja Cat são exemplos de artistas que fazem uso frequente desse acessório para alternar entre estilos em apresentações e premiações.
Segundo um levantamento de 2019 do Instituto Locomotiva, mulheres negras são as principais consumidoras nesse mercado, movimentando mais de R$ 700 bilhões por ano, o que representa 16% do consumo nacional. Esse valor também reflete a grande rede de profissionais especializadas em tranças, entrelace e aplicação de laces.
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Acessório de moda e de autoestima
Na internet, alguns discursos associam o uso de laces, perucas e rabos de cavalo à baixa autoestima, sobretudo entre mulheres negras. Para quem defende essa ideia, recorrer a cabelos que não são os seus significaria rejeitar a própria aparência.

Mas, conversando com Jennifer, gerente de uma loja especializada no Centro Histórico de São Paulo, fica claro que essa visão não dá conta da diversidade de motivos que levam as clientes a procurar esses acessórios. Ela explica que, além da vaidade, uma pequena parcela — menos de 30% — utiliza as peças como parte de tratamentos capilares:
“A gente atende desde trans, que é mais uma questão de identificação, a gente atende mulheres que gostam de mudar de visual, então também tem a questão da praticidade… Tem gente que é por tratamento, mas é muito pequena essa parcela.”
Usuária de laces há oito anos, Jennifer começou pela praticidade no cotidiano:
“Eu comecei porque era mais fácil no dia a dia — aquele problema em pentear o cabelo, a preguiça, o fio muito fino… Só que aí foi uma coisa que eu gostei.”
Para ela, a verdadeira graça está na liberdade de experimentar:
“Poder trocar de cor, corte ou textura de cabelo é libertador e divertido.”
Com a experiência no atendimento, Jennifer ainda destaca:
“A gente não vende só cabelos, a gente vende autoestima.”