Duran Lantink estreia na Jean Paul Gaultier com o objetivo de viralizar
Mari Laurindo
O desfile de verão 2026 da Jean Paul Gaultier aconteceu neste domingo (5) durante a Paris Fashion Week, marcando a estreia de Duran Lantink como diretor criativo da marca. O estilista holandês é o primeiro a assumir o comando fixo da maison desde a aposentadoria de Gaultier, em 2020, e sua chegada representa também o retorno do prêt-à-porter da grife à passarela após mais de uma década de ausência.
Conhecido por sua estética provocativa e pelo reaproveitamento têxtil, Lantink já havia se destacado com sua marca homônima, onde desconstrói peças cotidianas e questiona os padrões do vestir. Sua estreia na Gaultier manteve o espírito transgressor da casa, mas com um novo tom: uma sensualidade carregada de estranheza. A coleção explora um teor sexy que foge do óbvio, com corpos masculinos e femininos revelados por meio de roupas coloridas, texturas ousadas e modelagens inesperadas.
A abertura, com um macacão laranja de seios protuberantes em formato ovalado, remeteu à icônica silhueta em cone criada por Gaultier para Madonna, mas com um toque alienígena característico de Lantink. Entre as referências ao fundador, estavam as tradicionais listras marinheiras, chapéus de marinheiro e peças inspiradas na estética náutica.

As segundas peles tatuadas e o figurino futurista que remete a O Quinto Elemento (1997) também reforçaram o diálogo entre o passado e o presente da maison. A mistura entre o brega e o kitsch, marcas registradas de ambos os criadores, foi reinterpretada com humor e provocação visual, enquanto lingeries, transparências e op-art mantiveram a sensualidade em destaque.
Um dos momentos mais comentados do desfile foi o dos macacões estampados com corpos masculinos nus, usados por modelos mulheres. A proposta, que mistura ironia e desconforto, provocou reflexão sobre os papéis de gênero e a censura em torno da nudez feminina. A imagem das mulheres vestindo torsos masculinos escancarou o olhar desigual sobre o corpo, ao mesmo tempo em que questionou o próprio ato de transformar essa diferença em espetáculo.


Com essa estreia, Duran Lantink mostra que entendeu o jogo da moda contemporânea — um jogo que se move tanto pela criatividade quanto pela viralização. Ao unir o legado provocador de Jean Paul Gaultier com seu olhar experimental, o estilista dá início a uma nova era para a marca: mais colorida, sensual e desconfortavelmente irresistível.