Moda, Tendencias
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Muito além da Campbell’s: Warhol e a estética que veste gerações

Mostra em São Paulo explora o Universo de Andy Warhol, cujas criações seguem influenciando o mundo da moda, a publicidade, o design e a indústria audiovisual

por Nicole Ferreira

Imagem tirada da exposição “Andy Warhol: Pop Art!”

Você provavelmente já viu uma camiseta estampada com a imagem de Marilyn Monroe em tons vibrantes ou uma bolsa com a clássica lata de sopa Campbell’s. O que talvez não saiba é que por trás dessas imagens está um dos nomes mais influentes da arte contemporânea — e da própria moda: Andy Warhol.

A boa notícia? Parte do universo desse artista está em exibição em São Paulo no MAB FAAB até o dia 30 de Junho. Com 2 mil metros quadrados, a mostra “Andy Warhol: Pop Art!” reúne mais de 600 obras originais, trazidas diretamente do The Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, o maior museu dedicado a um único artista nos Estados Unidos. Além de conhecer obras-primas que marcaram a história da arte, os visitantes podem entender como Warhol moldou visualmente outras áreas como a publicidade, o design, a cultura pop e, claro, a moda.

Ilustrador, cineasta e escritor, Warhol se formou em artes plásticas em 1949 e logo se mudou para Nova York. Foi lá que iniciou sua carreira como ilustrador publicitário, colaborando com revistas como Glamour, Harper’s Bazaar e Vogue. Sua primeira técnica de destaque, conhecida como blotted line, criava desenhos borrados, com linhas pontilhadas e delicadas, e logo virou sua marca registrada. Diretores de arte e marcas do setor de luxo, como Tiffany & Co., Lord & Taylor e Bergdorf Goodman, rapidamente se encantaram pelo estilo inusitado do artista.

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Em 1955, Warhol foi contratado como ilustrador exclusivo da I. Miller Shoes Company, onde inovou ao representar sapatos de forma criativa e sofisticada, associando a marca à modernidade. No mesmo período, também passou a decorar vitrines da famosa Bonwit Teller, na Quinta Avenida, integrando arte, moda e consumo em uma única linguagem visual.

Dior – Coleção de bolsas e sapatos inspirados em Andy Warhol

Mas Warhol foi além. A partir dos anos 60, passou a retratar figuras célebres como Marilyn Monroe, Jackie Kennedy e Elvis Presley, elevando-as ao status de ícones culturais. Paralelamente, transformou produtos banais, como Coca-Cola, detergente Brillo e sopa Campbell’s, em arte — e, por consequência, em símbolos desejáveis da cultura de massa.

Segundo o artigo “A influência das obras de Andy Warhol na moda da atualidade”, de Raissa Lima, suas serigrafias repetitivas não apenas dialogam com a lógica da produção industrial, como também antecipam o comportamento do consumidor contemporâneo. Ou seja, não apenas retratava produtos: ele pensava como um produto. Sua estética industrial se alinhava perfeitamente ao que Adorno chamou de “indústria cultural”: um sistema que repete fórmulas para vender cada vez mais, mas disfarçado de inovação.

É aí que entra a moda, de certa forma.

A moda, por definição, é feita de ciclos. Ela vive de novidade, mas depende do desejo coletivo – quase inconsciente – de estar em sintonia com o que é tendência. Warhol entendeu isso como poucos. Ao transformar celebridades em ícones visuais e objetos banais em símbolos de estilo, ele preparou o terreno para o que viria a seguir: a fusão entre arte, consumo e identidade. Hoje, estilistas ainda recorrem a Warhol como referência, como John Galliano e Raf Simons, em roupas, acessórios e coleções conceituais. Warhol também inspirou marcas a explorarem o design gráfico, as cores vibrantes e a repetição como elementos centrais de identidade visual.

*Brand New* A-Line Pop Art Printed Neoprene T-shirt Raf Simons

Mais do que homenagem, isso revela uma lógica de mercado: transformar o que já é conhecido (e desejado) em produto de moda. Afinal, quando usamos uma peça com a imagem da Marilyn de Warhol, não estamos apenas nos vestindo, estamos comunicando algo. Talvez status, talvez ironia, talvez apenas nostalgia. Mas, no fundo, também estamos consumindo uma ideia de arte acessível e pop.

No mundo contemporâneo, onde tudo precisa ser visual, rápido e vendável, Andy Warhol continua vivo. E sua presença no universo fashion mostra como a arte pode ser crítica, mesmo quando vira estampa de camiseta.