Silhuetas que desfilam com os rostos encobertos marcam a estreia de Glenn Martens na Maison
por Nicole Ferreira
Nessa quarta feira (9) Glenn Martins assinou sua primeira coleção para a Maison Margiela na Haute Couture Fall/Winter 2025/2026. Ele assume o posto de John Galliano, representando de forma excêntrica Martin Margiela, o fundador da marca e ícone absoluto do mistério e desconstrução na moda.
O desfile aconteceu em câmaras subterrâneas com paredes descascadas, criando um clima entre o gótico e o fantasioso. As modelos surgiam de uma maneira diferente do habitual das passarelas de Paris, como figuras anônimas, usando máscaras encobrindo seus rostos, algumas bordadas com strass, outras douradas ou cobertas por véus translúcidos. Algumas até mesmo com a nudez aparente, como os seios, mas sem transpassar suas verdadeiras identidades, um detalhe que, para quem conhece um pouco da história da marca, é mais do que só uma escolha estética, e sim uma representação da herança direta de Martin Margiela.

Look 1 Margiela Haute Couture Fall/Winter 2025/2026
O designer belga desde o primeiro desfile, em 1989, preferiu apagar os rostos para destacar as vestimentas e seus detalhes. Nada de culto à celebridade, muito menos exaltação do ego. Era o coletivo, o anônimo, o essencial.
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Look 2 Margiela Haute Couture Fall/Winter 2025/2026
Martens, também belga, trouxe sua própria visão ao reinterpretar esse legado. Segundo ele, crescer em Burges, cidade medieval conhecida por uma atmosfera sombria e melancólica, influenciou nesse olhar. Em entrevista publicada na Vogue Runway, ele expõe como as texturas desgastadas dos papéis de parede antigos e tapeçarias flamengas do século XVII serviam de inspiração. Essa conexão com o passado, assim, se torna visível nos looks compostos por papel reciclado, bijuterias reaproveitadas, placas de metal martelado e veludos metalizados que davam a sensação que iriam derreter sob a luz.

Look 10 Margiela Haute Couture Fall/Winter 2025/2026
Apesar do tom teatral, existiu poesia e crítica social. Algumas peças lembravam vitrines de igrejas góticas, outras quadros de natureza-morta. As máscaras, inclusive, em certos momentos, pareciam surgir das paredes, como se as modelos fossem parte da própria arquitetura do local
Um fato bem curioso é a análise de quanto o anonimato hoje pode parecer um tanto quanto contraditório. Em tempos de redes sociais e viralização constante, a ausência de rostos pode dificultar a visibilidade e repercussão de um desfile. Ainda assim, ele escolher seguir na fidelidade do espírito da casa: fazer barulho, sim — mas através das vestimentas, apenas

Look 30 Margiela Haute Couture Fall/Winter 2025/2026