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Poluir é brega: A importância dos brechós para uma moda sustentável

Comprar peças de segunda mão ajuda a reduzir os impactos de uma das indústrias mais poluentes do planeta

Por Alinne Maria Aguiar

Os conteúdos sobre brechós estão cada vez mais em alta nas redes sociais. Desde dicas de lugares para encontrar roupas até inspirações de looks montados com achados nas compras. A palavra “garimpar” é muito comum entre os frequentadores desses espaços. Ela se refere ao ato de procurar com atenção e paciência por peças especiais em meio a uma grande variedade de roupas e acessórios. A compra é considerada bem-sucedida quando se encontra algo que dialogue com o estilo pessoal, e de preferência, por um preço acessível.

Além de fazer bem ao bolso, comprar em brechós é uma das principais formas de tornar a moda mais sustentável e circular.

O brechó não é mera tendência; é um modo de consumo responsável — praticamente um estilo de vida — que respeita o planeta e as futuras gerações, afirma Matheus Rabello, administrador do site Brechó.com [Imagem: Reprodução/Freepik]

Impacto ambiental

Segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), a indústria têxtil é a segunda maior poluente do mundo, ficando atrás apenas da indústria petrolífera. São mais de 2 bilhões de toneladas de carbono emitido ao ano, cerca de 4% das emissões globais. 

Ainda segundo a pesquisa, a fabricação de roupas e acessórios é responsável por gastar mais de 93 bilhões de metros cúbicos de água anualmente, esse valor é o suficiente para abastecer 5 milhões de pessoas. Para que se faça um único par de jeans, são necessários mais de 7 mil litros de água.

No Brasil, o cenário também é preocupante. De acordo com dados do Sebrae, são geradas por volta de 170 mil toneladas de resíduos têxteis por ano, das quais apenas 20% são recicladas. Os outros 80% acabam em lixões ou são incinerados.

A problemática do setor da moda se torna ainda maior com o avanço “fast fashion”, termo que define o modelo acelerado de produção e consumo baseado na constante renovação de coleções. Esse sistema, somado às tendências que duram poucas semanas, contribui para a banalização da roupa como algo descartável.

Para manter os custos baixos, característica do modelo de fast fashion, a indústria recorre a  fibras sintéticas baratas, derivadas de combustíveis fósseis não renováveis. Conforme publicado em um relatório feito pela Changing Markets Foundation, o uso de materiais como o poliéster dobrou nos últimos 20 anos. Esse tipo de fibra leva cerca de 400 anos para se decompor.

Todos os anos, cerca de 39 mil toneladas de roupas vindas dos Estados Unidos, Europa e Ásia são descartadas ilegalmente no deserto do Atacama, no Chile [Imagem: Reprodução/Youtube/BBC News Brasil]

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Caminho para sustentabilidade

Iniciativas como brechós e bazares surgem como alternativas para quebrar a lógica de produção acelerada e contribuir para uma moda mais sustentável. Isso porque esses comércios tem como princípio manter as roupas em circulação e constante uso.

Trata-se de uma via de mão dupla: quem doa ou vende as peças que não usa mais evita o descarte incorreto, enquanto quem compra colabora para reduzir a demanda por um modelo de produção que degrada o meio ambiente.

“Os brechós criam um novo ciclo de vida para cada peça, preservando-lhe a história e o estilo”, afirma Matheus Rabello, administrador do Brechó.com — uma plataforma que reúne estabelecimentos do segmento e facilita a busca por brechós próximos ao usuário.

São vários os estabelecimentos desse tipo espalhados pelo Brasil, segundo dados do Sebrae, de 2023, o país tinha mais de 118 mil brechós ativos. 

Camilla Silva, criadora do brechó online Brechozin do gato, conta que o perfil nasceu no início da pandemia, após perder o emprego de carteira assinada. “No comecinho da pandemia, iniciei o perfil como um desapego de algumas roupas, para ter uma renda, pois tinha perdido meu antigo emprego. Desde então, vem sendo minha única fonte de renda, e gosto muito de fazer esse trabalho”, relata.

Além de beneficiar o meio ambiente e poupar o bolso, comprar em brechós e bazares também é uma forma de desenvolver um estilo próprio, livre das imposições das tendências virais que duram poucas semanas. 

No entanto, Camilla chama atenção para a importância do consumo consciente, mesmo em brechós. “Eu penso que o brechó, o ato de reutilizar roupas, criar novas peças com peças velhas, é um passo grande e traz benefícios importantes para o mundo no qual vivemos.”